Por Biaia
Coordenador Geral
do SINTECT/CAS
Mas o que temos visto é que isso não passou de conversa para boi dormir, pois depois que ocuparam os tais cargos, nunca fizeram nada em prol dos ecetistas. Pelo contrário, passaram a atuar como “capitães do mato”, chegando ao ponto de defender o desconto dos dias de greve na Campanha Salarial passada; e o que é pior, realizaram esses descontos com a greve ainda em andamento.
Hoje tive a oportunidade de debater pelo facebook com um companheiro que dizia que a greve é como uma guerra e, portanto, vale tudo, inclusive o corte dos dias. Com essa fala, ele defendia que FHC estava corretíssimo na maneira que lidava com o funcionalismo público, e que quando o Partido dos Trabalhadores o criticava, era apenas bravata.
É óbvio que quando entramos em greve, não entramos pelos dias, e sim para avançar em nossas conquistas. O desconto ou não dos dias parados será fruto do desfecho final da disputa, da correlação de forças de cada parte demonstrada ao longo da greve. No entanto, cabe lembrar que nem FHC teve tamanha audácia de descontar os dias dos trabalhadores em plena greve. Em 1997, por exemplo, tivemos nossos 21 dias descontados, mas não no meio da greve.
Mas o que vemos é que o ataque que nem FHC teve a coragem de praticar, a “outrora lutadora pelos direitos democráticos”, Presidenta Dilma (PT) - juntamente com o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT) e com o Presidente da ECT, Wagner Pinheiro (PT) – praticou. E lamentavelmente, os ex-sindicalistas que diziam estar indo para a estrutura da empresa para nos defender não tiveram a mesma dignidade que o Sr. Brod César Augusto, que abriu mão da sua função para não chicotear os seus companheiros.
Nos Correios, o ex-sindicalista Luiz Eduardo (PC do B) e Cia Ltda, que estavam na mesa de negociação passada, como bons capitães do mato atacaram seus [ex] companheiros de empresa naquilo que é mais sagrado para uma mãe e pai de família: o salário que garante o pão de cada dia para os seus filhos.
De novo, Luiz Eduardo (PC do B) e Cia Ltda estão na mesa de negociação fazendo o jogo sujo do governo. Temos que repudiar veementemente esses negociadores e exigir as suas saídas das negociações. Os trabalhadores precisam de homens como o Sr. Brod César, que não abra mão dos seus princípios por dinheiro.
Vejam abaixo, na íntegra, a carta de pedido de demissão do Sr. Brod César:
O PT como patrão
“Orientação sobre a folha de ponto dos servidores em greve Informo que, seguindo orientação superior do MP, os grevistas deverão ter os pontos cortados, desta forma não deverá constar nenhuma observação na folha de ponta dos servidores que estão de greve e não registraram o ponto. Já aqueles servidores que estão de greve e mesmo assim registraram o ponto deverão ter seus pontos cortados (anulados) já que não trabalharam.
Quanto aos servidores que estão trabalhando normalmente e que não puderam trabalhar no dia 5 de julho por causa da greve dos ônibus podem ter seu dia abonado, código 05.”
Sou coordenador geral de inovações tecnológicas do departamento de sistemas de informação da secretaria de logística e sistemas de informação do ministério do planejamento, orçamento e gestão do governo do Brasil. Estou neste cargo desde setembro de 2011. Hoje comunico, publicamente, meu pedido de exoneração.
Todos sabem qual é meu salário graças à Lei de Acesso à Informação. Preciso deste salário e, de fato, tenho orgulho em merecê-lo. Mas a partir do momento em que tenho que ferir meus princípios para manter minha remuneração, meus princípios sempre ganharão o jogo, independente do que virá depois.
Trabalho, há bastante tempo, com o conhecimento livre e modelos de negócios baseados nisso. Em Porto Alegre, no final dos anos 1990, tive o prazer de ver um projeto de governo crescer levando em conta a crença em que a liberdade ampla para todas as formas de conhecimento era um fator gerador de inovação tecnológica e de criação de emprego e renda. Apoiei esse projeto mas nunca integrei nenhum quadro do governo até setembro de 2011, quando assumi o cargo acima mencionado, e passei a ser o responsável pelo Portal do Software Público Brasileiro, pela Infraestrutura Nacional de Dados Abertos, além de outras atividades.
Não foi fácil, vindo da iniciativa privada e há mais de doze anos como empresário, aprender a hierarquia e a burocracia que são parte de um emprego público. Aliás, esse é um aprendizado constante. Mas segui trabalhando com minha paixão: liberdade de conhecimento como geração de inovação e riqueza.
No decorrer de meu trabalho deparei-me com a greve do funcionalismo federal, à qual aderiram muitos dos que estavam sob minha coordenação. Enfrentar uma greve como executivo público foi algo totalmente inédito para mim.
Acompanhei greves desde o tempo de meu avô, no surgimento do PT. Toda a articulação para as greves, para a criação de uma força que mudasse o estado, conscientizou uma população que colocou o PT no poder. Mas o PT patrão parece não ter aprendido com sua própria história. O PT patrão apenas aprimora as táticas de pressão psicológica e negociação questionável daqueles com os quais negociou na época em que a greve era sua.
O PT patrão virou governo, melhorou o país e acha que não depende mais da máquina que sustenta o estado. O PT patrão, que fez muito pela nação, tem a certeza de que vai muito bem sozinho. E está indo mesmo!
Eu espero que nosso país siga melhorando, mas estou nele para mudá-lo e não para cumprir ordens com as quais não concordo. Como coordenador, jamais cortarei o ponto daqueles que trabalham comigo e estão em greve. Independente da greve, eles cumpriram seus compromissos civis sempre que necessário. E, na greve, cultivaram ainda mais sua união na crença da construção de um Brasil melhor”.
(Brod César Augusto, responsável pela Coordenação Geral de Inovação Tecnológica da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão).
Fonte: ANDES-SN -Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior